Camiño de Santiago etapa 14 a 16

Etapa n°14   24 Ago 2017

A alvorada seria às 5h30, mas a preguiça aliada a uma etapa curta deixou-nos na cama até às 8h. Até porque para quem dorme na rua estava um pouco fresco. Tomamos o pequeno almoço e decidimos só parar para almoçar. Arrancamos a bom passo e passamos algumas dezenas de peregrinos, até que, quando pensávamos em almoçar já tínhamos chegado ao fim da etapa e decidimos tentar albergue. Se houvesse lugar ficávamos, se não, continuávamos. O albergue encheu e ficaria muita gente de fora, então abriram um pavilhão de uma escola para dormirmos. Pagámos 5€ cada um, que na prática foi só para os banhos, mas que nós estávamos mesmo a precisar. 2 dias sem tomar banho e cerca de 60km feitos resultam num mau cheiro enorme. Como chegámos cedo e conseguimos albergue ainda andámos a passear pelo centro da cidade. Depois aproveitámos o resto da tarde para um bom banho, lavar roupa e descansar um pouco nas nossas hammoks que foram muito admiradas por outros peregrinos. Jantámos comida desidratada porque não havia cozinha no pavilhão e conversámos um pouco com uns alemães por quem tínhamos passado hoje e achámos um pouco estranho. Iam todos os três em fila e a ouvir música, o que não é muito habitual aqui. Discutimos isso e eles perguntaram-nos porque caminhávamos tão rápido. Pergunta à qual não soubémos responder. Talvez porque foi o ritmo que fomos adquirindo ao longo dos dias.


Etapa nº15      25 Ago 2017

Tínhamos previsto fazer esta etapa apenas até Caldas de Reis, mas estávamo-nos a sentir bem e como tínhamos tido uma tarde inteira de descanso decidimos juntar duas etapas, ou seja, iríamos agora até Padron e almoçaríamos em Caldas de Reis. Acordámos bem cedo, tomamos um bom pequeno almoço e fizemo-nos ao caminho, que rondaria os 40/45km. 
Na tarde anterior um dos nossos amigos de Penafiel disse-nos que nos iríamos cruzar com uma placa que diria "Parque de Barosa" ou apenas "Barosa" e que a cerca de 500m do caminho teríamos uma cascata bonita e um espaço agradável. Assim que a avistámos seguimos a sua indicação e fomos até àquele espaço maravilhoso e super pacífico. Por serem quase 10h concordámos em comer ali o lanche da manhã, mesmo em frente à  cascata. Já de barriga aconchegada decidi ir explorar um pouco mais o lado de cima da cascata, onde encontrei uns três ou quatro moinhos de água e uma paisagem natural ainda mais bonita do que cá de baixo. Sentei-me numa das rochas mais altas a ver a vista e acabei por adormecer. Acordei em sobresalto, talvez por o ter feito sem querer e por ter acordado tão alto e em risco de cair.

Logo à partida tínhamos decidido que teríamos de almoçar em Caldas de Reis ou comprar o almoço e andar mais um pouco. Assim foi, chegámos a Caldas de Reis ainda não era meio dia e decidimos logo almoçar por lá para não estarmos a carregar as coisas e a perder tempo com esses pormenores logísticos. Comemos uma baguete inteira cada um, com 7 fatias de mortandela de azeitonas, 3 salsichas, queijo para barrar e batatas fritas. 
Encontrámos alguns parceiros de etapas que nos disseram que toda a gente iria pernoitar por ali, como nós já prevíamos. Dissémos um simples "até já", mas no fundo sabíamos que, provavelmente, nunca mais os iríamos encontrar na vida. Foi com um olhar de despedida que deixámos todas aquelas pessoas que já tão bem conhecíamos. 
Seria uma tarde dura, pois ainda teríamos cerca de 20km para percorrer e tínhamos visto que o gráfico da altimetria não nos dava tréguas. Conseguímos um bom ritmo e ao fim da tarde lá chegámos a Padron.

Entrámos no primeiro Albergue que vimos e perguntámos se estava cheio. Todas as cerca de 10 pessoas que estavam na receção acenaram que sim. Foi então que me lembrei de perguntar o preço e me disseram que custava 15€. Com esta última resposta vimos logo o panorama e ficámos logo a saber que teríamos mais uma noite por nossa conta, ao relento. 

Fomos até ao centro da cidade e sentámo-nos no primiero banco que encontrámos, pois as pernas e os pés já nos vinham a implorar que o fizéssemos há muito. Foi aí que confirmamos o que já havíamos previsto. Mesmo depois de tomar banho é fácil identificar um peregrino entre a multidão. O estilo é sempre o mesmo, roupas sintéticas e leves, mochilas pequenas que se arrumam facilmente e umas sandálias nos pés. Mas infelizmente não conhecíamos nenhum deles. O que quer dizer que toda a gente que conhecíamos ficou em Caldas de Reis, e estes eram os que tínham começado um dia mais cedo. 

Conversámos com um grupo de portugueses que se admirou de ainda andarmos com as mochilas àquelas horas e explicámos-lhes o nosso método. Ficaram impressionados. Além disso, noutras conversas, descobrimos também que uma parte deles conhecia relativamente bem a nossa querida aldeia da Drave. 

Depois de toda a conversa, fomos ao supermercado, comprámos o jantar e decidimos ir para um café comê-lo, onde só pediríamos as bebidas. Mas só o fizémos para podermos carregar os nossos telemóveis e utilizar a casa de banho, que com o preço das duas cervejas que pedimos, dava para pagar a conta mensal da água.

Como estávamos no centro da cidade, tivémos de retomar o caminho por mais 5km, até voltar à floresta. Foi então que encontrámos um local mesmo resguardado e com árvores distanciadas idealmente para as nossas hammocks. Infelizmente, como em muitos outros lugares, aquele espaço não era apenas a nossa casa por aquela noite, era também a casa de banho do peregrino. Só se via papel higiénico pelo chão e alguns "presentes" que acabámos por ter de cobrir com terra para obtermos um ar mais respirável. 

Mas tivémos uma noite super confortável e agradável. Apenas não tínhamos conseguído tomar banho.



Etapa nº16     26 Ago 2017



Acordámos, com vontade de dormir mais e ainda estivémos um pouco na ronha, mas como castigo, S.Pedro enviou-nos uma nuvem que depressa nos começou a molhar e foi assim que saímos do "ninho" a toda a velocidade, enfiámos tudo nas mochilas sem estar arrumado, colocámos os impermiáveis, em nós e nas mochilas e seguimos caminho até encontrarmos um local onde nos pudéssemos abrigar para arrumar tudo e tomar o pequeno almoço. 
Voltámo-nos a fazer ao caminho e ainda chovia, mas estávamos equipados e não houveram problemas. 
Tínhamos, ainda, 19km a percorrer até Santiago de Compostela que nos custaram bastante, porque já achávamos que estávamos mesmo perto e que em minutos estaríamos lá, mas não era bem assim. Demorámos toda a manhã para percorrer os km restantes.
E para nosso espanto, quando entrámos na cidade as setas acabaram-se. Era suposto conhecermos a cidade?!
Acabámos por seguir a multidão e outros peregrinos e finalmente chegámos à tão esperada Catedral. Sentámo-nos, descansámos, tirámos a foto que prova a nossa chegada e olhámos um pouco à nossa volta onde muitos sorriam e festejavam e outros choravam nas despedidas das pessoas que tinham conhecido no caminho. 



Com o sentimento de dever cumprido fomos buscar a compostela e o certificado de distância, onde vêem todos os nossos carimbos e comprovam se de facto fizémos o caminho. Depois viram na internet a ditância de Porto de Mós até Coimbra e somaram a distânica de Coimbra a Santiago de Compostela, que já estava tabelada. Contas feitas fiquei com 497km oficialmente percorridos, mas na prática fizémos mais, pois tivémos fora do caminho alguns dias e às vezes percorríamos mais alguns km para ir dormir a casa de amigos.




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